
Nº 365 . ANO XXX . OUTUBRO 2019 . QUALIDADE DE VIDA
O LADO RUIM DA INTERNET
Pesquisas indicam que muito tempo dedicado à internet e às redes sociais pode causar transtornos emocionais e provocar dependência em jovens e adolescentes
De acordo com estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo, 25,3% dos adolescentes mostram dependência grave ou moderada à internet. Aplicado em mais de 2 mil estudantes entre 15 e 19 anos da rede pública e privada de Vitória (ES), o levantamento também aponta que a incidência de sintomas de ansiedade alcança 34% dos dependentes, enquanto nos demais jovens o índice é de 17%.
De acordo com a médica do adolescente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Sheila Niskier, entrevistada pelo jornal, a autoimagem é muito importante para o adolescente e a rede social é um local onde ele pode encontrar a aprovação e a popularidade que não encontra em sua vida off-line. Outros especialistas também apontam que a internet traz uma sensação de igualdade que os adolescentes não sentem no dia a dia.
A dependência acontece porque o sentimento de receber um “like” aciona a mesma parte do cérebro que o jogo e o abuso de substâncias, segundo estudos da University of Southern California e da Beijing Normal University. Porém, segundo a professora de psicologia da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, Jean Twenge, o uso exagerado de internet e redes sociais pode ter relação direta com o aumento da depressão e ansiedade.
A especialista, autora do livro “The Narcissism Epidemic” (A Epidemia do Narcisismo, em tradução livre), de 2010, publicou um artigo no qual afirma que adolescentes que passam três horas ou mais por dia usando dispositivos eletrônicos têm 35% mais chances de desenvolver um fator de risco para o suicídio.
Outro estudo, da Royal Society for Public Health, uma organização inglesa sem fins lucrativos, ouviu 1,5 mil jovens britânicos com idades entre 14 anos e 24 anos que, em maioria, acredita que o uso de Facebook, Instagram e outras redes faz mal ao bem-estar, embora também contribua positivamente em suas vidas.
Já para o professor de sociologia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Claude Fischer, pode ser exagero culpar somente as redes sociais pelos problemas de saúde dos jovens. Em artigo, o especialista defendeu que elas ajudam a melhorar as habilidades sociais de seus usuários. A própria pesquisa da Royal Society for Public Health aponta que o uso de redes sociais colaboram para criar sensação de comunidade em seus usuários.
Muito além
A dependência de internet, no entanto, não deve ser subestimada. O próprio governo federal brasileiro prepara um programa que oferecerá cartilhas e vídeos informativos para promover o uso responsável da tecnologia. Intitulado Reconecte, o programa também vai realizar pesquisas sobre o tema para preparar políticas públicas.
Para lidar com o problema, especialistas recomendam que pais monitorem a frequência do uso de redes sociais por seus filhos e o quanto eles dedicam tempo a ela em troca de outras atividades.