Nº 351 . ANO XXIX . AGOSTO 2018 . QUALIDADE DE VIDA
EMPRESAS ADOTAM TÉCNICA DE MEDITAÇÃO PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE DE COLABORADORES
Estudos mostram que prática diminui o estresse e causa mudanças positivas no cérebro e no dia a dia de praticantes
Steve Jobs, fundador da Apple e falecido em 2011, costumava meditar e, segundo seu biógrafo Walter Isaacson, a prática acalmava a sua mente e o permitia ver as coisas com mais clareza. Oprah Winfrey, famosa apresentadora dos Estados Unidos, diz que a meditação alivia o seu estresse e a deixa mais focada. Eis dois conselhos de ícones internacionais que despertaram o interesse das empresas, que passam a apostar em práticas do tipo para contribuir com a produtividade dos profissionais.
Nos últimos anos, vem ganhando destaque a prática “mindfulness”, uma técnica que utiliza a meditação para desenvolver um estado mental de atenção plena. De acordo com especialistas, ao praticá-lo, a pessoa experimenta um estado de concentração em si mesmo e nas experiências do agora. A técnica chamou a atenção do mundo corporativo, principalmente de organizações do setor de tecnologia, como Twitter, Facebook e o Google, que enxergam na prática uma forma de diminuir o estresse, melhorar a concentração e a produtividade.
No artigo “Meditação dirigida: produtividade e qualidade de vida”, dos doutores Maria Amelia Zogno e Wilson Gonçalves Viana, da Universidade de São Paulo, é dito que a meditação melhora a produtividade, a memória, a capacidade de aprendizado e a autodisciplina.
No estudo conduzido por eles, foi avaliado que 97% da população estudada percebeu melhoras após o início da prática, sendo as mais citadas: maior tranquilidade e diminuição da ansiedade, estresse e insônia.
A neurocientista de Havard, Sara Lazar, especialista em yoga e meditação, também conduziu estudos sobre os benefícios da meditação. Um deles foi a realização de exames para comparar o cérebro de praticantes e não praticantes de meditação, conferindo que havia mais massa cinzenta nos órgãos de meditadores, principalmente no córtex cerebral, responsável pelas memórias e a tomada de decisão.
Lazar lembra que essa mesma área tende a diminuir conforme envelhecemos, o que explica a dificuldade de lembrar do passado. Porém, o estudo mostrou que os meditadores de 50 anos têm o mesmo tamanho de córtex que os de 25 anos não praticantes, indicando que a meditação desacelera ou previne o declínio natural da estrutura do córtex com a idade.
A pesquisa, porém, não indicava muita coisa. Segundo a especialista, as diferenças no cérebro poderiam ser resultado de outras coisas que não estavam ligadas à meditação. Por isso, a equipe de Lazar fez um segundo estudo, só com não praticantes.
Eles foram examinados e colocados em um programa de meditação de oito semanas para redução do estresse e meditavam de 30 a 40 minutos por dia. Findado o período, foram aplicados novos exames, que mostraram crescimento no hipocampo, responsável pela aprendizagem e memória de curto prazo, após a prática de meditação.
Para Lazar, os estudos mostram que há uma razão neurobiológica para o que Jobs, Oprah e os participantes do estudo da USP diziam ao se sentir menos estressados. “A meditação pode, literalmente, mudar o seu cérebro”, afirma.